terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Daniel na Cova dos Leões (Sexto dia)

Por mais que eu tente Andréa sempre está por perto. Não literalmente, não fisicamente, mas aqui, aqui dentro, dentro da minha cabeça. Abro a geladeira e ela está lá, vou ao banheiro e ela está lá, vou ao açougue e ela está lá, bebo com os amigos e ela também está presente. Quando durmo, adormeço com ela. E mesmo assim, ela estando sempre em minha cabeça, e talvez por isto, não vejo a hora de estar com ela. Fisicamente. Ouço um estalo na porta e torço para que seja ela, chego em casa, e torço para que ela esteja me esperando, vou dormir, torcendo para que ela apareça.

Sentado na cadeira observo um besouro que saiu não sei de onde sobrevoar minha cabeça. Fica zunindo, zunindo, as asas movendo-se numa velocidade inacreditável sob a carapaça que a cobre quando está em repouso. Ele segue sobrevoando minha cabeça, fazendo círculos sobre ela, um círculo que se espande e se encurta, batendo nas paredes, no forro. Fico observando ele lá com o pressentimento que logo ele pousará sobre minha cabeça. Engenharia perfeita. Imagino ele parado, em repouso ou movendo-se lentamente, gorducho, lembrando algo, um fusca ou um pequeno furgão. Aquilo não voa, você pensa. Então ele levanta a carapaça que lhe cobre as pequenas assas finíssimas, transparentes e num movimento rápido levanta vôo movendo suas asas numa velocidade incrível.

Finalmente o besouro some e volto a folhear os classificados do jornal em busca de uma vaga para jornalista, em qualquer jornal que esteja precisando de um.

A noite Andréa finalmente aparece. Se eu tivesse me olhando no espelho tenho certeza que veria meus olhos brilharem. Ela sorri e me beija. Pergunto se ela quer sair - não sem antes irmos para a cama -, que meus amigos nos convidaram para beber em algum bar e jogar conversa fora. Ela responde tranquilamente que não gosta deles, respondo dizendo que também não gosto dos seus. É a primeira vez que discutimos. Andréa remexe a bolsa em busca cigarros, encontra e acende um. Nessa noite começo a fumar. Andréa ri e logo esquecemos os amigos. Carlos, Ernesto, Marcos, Tico, todos eles, todos meus amigos. Eles que se fodam.

Andréa veste um vestido de tecido leve, acredito ser de algodão, de cor azul. Preciso dela e me pergunto se ela precisa de mim. Algumas perguntas é melhor você não ter a resposta.

Um comentário:

  1. O RAIZONLINE que agora é também Portal para além de conter o Jornal Raizonline - http://www.raizonline.com/ e a Rádio Raizonline - http://www.raizonline.com/radio/ baseado na votação de Blogues que mantém em aberto em http://www.raizonline.com/sessenteeoito.htm achou por bem sugerir aos autores dos Blogues melhor classificados nas votações que integrem o seu PORTAL.

    Assim, caso esteja (m) interessado (s) em fazer parte da nossa comunidade essencialmente direccionada para a cultura podem ver o mesmo Portal em http://www.raizonline.com/portalindex.htm e entrar em contacto connosco atravé do mail: raizonline@netcabo.pt para complementação da colocação do seu (vosso) Blogue no Portal caso assim o entendam.

    Melhores cumprimentos

    Daniel Teixeira

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