terça-feira, 30 de novembro de 2010
Cidade Fantasma
Amanhecer
Iguarias. Levemente atormentada. Pela manhã barbitúricos. Sonha com monstros, liga durante a madrugada.
Durante algum tempo resolveu pintar. Quadros horríveis, eu disse para ela. Lola respondia afirmando que eu era insensível. Creio que não. Não me diziam nada. De qualquer modo logo ela abandou a pintura. Voltou para suas iguarias, barbitúricos.
Iguarias. Levemente atormentada. Pela manhã barbitúricos. Sonha com monstros, liga durante a madrugada.
Durante algum tempo resolveu pintar. Quadros horríveis, eu disse para ela. Lola respondia afirmando que eu era insensível. Creio que não. Não me diziam nada. De qualquer modo logo ela abandou a pintura. Voltou para suas iguarias, barbitúricos.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Café da Manhã
Nada demais. Ontem (22/11), antes de sair para o trabalho pela manhã abri um jornal da cidade ao acaso, passei os olhos sobre ele enquanto bebericava uma pequena xícara de café preto. Então notei duas matérias na página de variedades, falavam sobre eventos na cidade. Cada matéria falava sobre um. Você sabe. Cinco minutos. Eu tinha mais cinco minutos antes de sair correndo para não perder o ônibus. Percebi que eu havia feito algo para os dois eventos anunciados ali. Logomarca, identidade visual. Foda, e a conta bancária zerada. Matando cachorro a grito. Sem grana, bebendo meu café magro para sair correndo para o trabalho onde venderei horas e mais horas por uma mixaria que não paga minhas contas. Vou correr lá senão perco o ônibus.
Finalmente chegou em minhas mãos, e estou lendo, É Quase Tudo Verdade, do Allan Sieber e Pergunte ao Pó, do Fante. Parece que todos já leram esse livro, só agora consegui um exemplar para ler. Entre as poucas horas que sobram estou trabalhando em algumas ilustrações, parece que seis, mais uma para capa de um livro. Cansaço. Cansaço. Enquanto isto aproveitei à hora do almoço para passar num tatuador para me informar dos preços. Estou tentando conseguir fazer sobrar uma grana para poder tatuar o nome da minha filha Sofia no braço.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Short stories
Bebemos Gin com limão. Elise tinha pernas que lembravam troncos, poderosos troncos destruidores. A conheci no bar, bang bang. Amante de carteiro. Inacreditável, ali, fibras, ossos, artérias, víceras. Tudo ali, compondo ela.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Revista Golden Shower no O Globo
Editado por Cynthia B., a revista “Golden Shower” é praticamente um quem é quem da cena indie brasileira de quadrinhos.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
RAYMOND CARVER
Cabrones, não sou um cara de poesia. Gosto de poucas e de poucos, mas algumas vezes você encontra algo. Uma poesia que de alguma forma toca você, que diga algo que você sinta, algo parecido com seus sentimentos e pensamentos. Buenas, esta que posto aqui é de autoria de RAYMOND CARVER, e encontrei (veja só, nem só de cerveja vive o homem!) no blog do Allan Sieber.
MEDO
Medo de ver a polícia estacionar à minha porta.
Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir.
Medo de que o passado desperte.
Medo de que o presente alce voo.
Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
Medo de tempestades elétricas.
Medo da faxineira que tem uma pinta no queixo!
Medo de cães que supostamente não mordem.
Medo da ansiedade!
Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
Medo de perfis psicológicos.
Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
Medo de ter que morar com a minha mãe em sua velhice, e na minha.
Medo da confusão.
Medo de que este dia termine com uma nota infeliz.
Medo de acordar e ver que você partiu.
Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
Medo de que o que amo se prove letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver demais.
Medo da morte.
Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir.
Medo de que o passado desperte.
Medo de que o presente alce voo.
Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
Medo de tempestades elétricas.
Medo da faxineira que tem uma pinta no queixo!
Medo de cães que supostamente não mordem.
Medo da ansiedade!
Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
Medo de perfis psicológicos.
Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
Medo de ter que morar com a minha mãe em sua velhice, e na minha.
Medo da confusão.
Medo de que este dia termine com uma nota infeliz.
Medo de acordar e ver que você partiu.
Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
Medo de que o que amo se prove letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver demais.
Medo da morte.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Golden Shower
Lançamentos Quinta e Sexta da Golden Shower!
Infelizmente não irei. Certeza de festa boa. Quem puder, apareça e leve a sua revista para casa.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Adeus, Bogotá!
Sandra cuspia fogo. Gostava de vestir cinta-liga, espartilho, corpete. Andava assim pela casa. Gostava de me agradar. Comprava cigarros, fazia o café, agrados. Tinha uma maravilhosa região pélvica. Eu gostava de beijá-la ali.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
DANIEL NA COVA DOS LEÕES (4ª Parte)
Quarto dia
O Arqueiro Verde saberá o que fazer
Eu estava deitado em minha cama lendo uma revista em quadrinhos. O ativista Oliver Queen veste seu uniforme. Pega seu arco e num instante transforma-se no Arqueiro Verde, pronto para salvar a cidade, o mundo, a humanidade. O Arqueiro, desde a minha adolescência, é meu herói preferido. Ele e suas flechas variadas. O vilão acaba de assaltar um banco, o Arqueiro Verde pega uma de suas flechas - a flecha que possui na ponta algo que parece uma luva de boxe - e dispara certeiro. A flecha atinge o vilão no queixo sem que ele tenha tempo para reagir. Cai nocauteado. Missão cumprida. Noutra vez, um ser do espaço ataca a cidade. Ele se alimenta de verde, mais especificamente de vegetais. Árvores, arbustos, tudo que possua folhas. Matas, bosques, florestas são devoradas como se atacadas por uma praga de gafanhotos gigantes. Uma praga maior do que a que se abateu sobre o Egito. Oliver sabe que terá muito trabalho, a vida na terra depende dele, a humanidade está fodida. Mas ele, o Arqueiro Verde, bem... ele tem seu arco multi-uso e descobrirá como deter a ameaça. Quando estou prestes a trocar de página Andréa rompe a porta fumando um cigarro. Só então me dou conta de que dei uma cópia da chave para ela. Assim rápido. Há poucos dias eu nem ao menos sabia que ela existia. Eu nunca fui tão rápido. Eu fui, ela foi? Não importa. Para mim a única coisa que importa é que ela esteja aqui. Foi a primeira vez que Andréa foi ao meu apartamento.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Nasceu!
Cynthia B. posa orgulhosa com a revista
Cabrones, nasceu a tão esperada revista Golden Shower. Fruto do grande esforço e obstinação de Cynthia B. Todos sabem que lançar uma revista em quadrinhos indepedente não é nada fácil, na maioria das vezes o projeto morre nas reuniões. Golden Shower, chega trazendo "coisas lindas, doentes e sujas", segundo, Cynthia B. Buenas, o velho Wiskow se orgulha de ter participado com uma pequena HQ na revista, juntamente com Allan Sieber, Chiquinha, André Dahmer, Benett, os rapazes da Beleléu e do Samba, Fabio Lyra, Arnaldo Branco e outros nomes do cenário atual estão reunidos em 100 páginas de quadrinhos.
O lançamento é dia 11 de Novembro, quinta-feira, na La Cucaracha! Procure também nosso stand na Rio Comicon chamado Quadrinhos Dependentes. http://www.ambrosia.com.br/off-comicon/
O Preço é de apenas R$7,00. Compre, compre!!
O lançamento é dia 11 de Novembro, quinta-feira, na La Cucaracha! Procure também nosso stand na Rio Comicon chamado Quadrinhos Dependentes. http://www.ambrosia.com.br/off-comicon/
O Preço é de apenas R$7,00. Compre, compre!!
sábado, 6 de novembro de 2010
DANIEL NA COVA DOS LEÕES (Parte 3)
Terceiro dia
Coca-Cola
Marcamos no bar, no fim da tarde. Ela me encontrou enquanto eu bebia uma Cola-Cola. Pela manhã eu soube que havia perdido a vaga para estagiário de jornalismo num pequeno jornal da cidade, mas um amigo de faculdade já havia me indicado para outra vaga em outro jornal. Eu tinha fé. Estava confiante nessa nova vaga. Andréa chegou sorridente, vestia uma calça jeans, uma pequena blusa colada ao corpo e de seus dedos pendia um cigarro ainda apagado. Assim que chegou colou seus lábios nos meus e sentou-se.
- Essa é uma cidade fantasma – ela disse.
- O quê?
- Cidade fantasma. Vivemos numa cidade fantasma. Aqui nada existe. Nem eu, nem você, nem seus amigos ou os meus. Todas aquelas pessoas que andam e se acotovelam-se nas ruas como se não existisse mais nada a não ser elas. Todos eles. São apenas fantasmas. Assim como essa cidade. Apenas aceitam, não reagem. Acabei concordando e quase formamos ali, uma dupla de heróis. Poderíamos vencer o mundo. Eu, ela, nosso amor. Nosso amor? Ou meu amor? Seu amor? Nesse instante hesitei com meus pensamentos. Ela me amava? Então olhei em seus olhos e ela sorriu como se tivesse lido meus pensamentos. Não sei o real motivo, mas acabei pensando que sim. Ela acendeu o cigarro e uma garçonete esquelética chegou na mesa para fazer o pedido. Outra Coca? – ela disse. Andréa sorriu e respondeu tão simples como um pardal na beira da estrada – uma cerveja.
Coca-Cola
Marcamos no bar, no fim da tarde. Ela me encontrou enquanto eu bebia uma Cola-Cola. Pela manhã eu soube que havia perdido a vaga para estagiário de jornalismo num pequeno jornal da cidade, mas um amigo de faculdade já havia me indicado para outra vaga em outro jornal. Eu tinha fé. Estava confiante nessa nova vaga. Andréa chegou sorridente, vestia uma calça jeans, uma pequena blusa colada ao corpo e de seus dedos pendia um cigarro ainda apagado. Assim que chegou colou seus lábios nos meus e sentou-se.
- Essa é uma cidade fantasma – ela disse.
- O quê?
- Cidade fantasma. Vivemos numa cidade fantasma. Aqui nada existe. Nem eu, nem você, nem seus amigos ou os meus. Todas aquelas pessoas que andam e se acotovelam-se nas ruas como se não existisse mais nada a não ser elas. Todos eles. São apenas fantasmas. Assim como essa cidade. Apenas aceitam, não reagem. Acabei concordando e quase formamos ali, uma dupla de heróis. Poderíamos vencer o mundo. Eu, ela, nosso amor. Nosso amor? Ou meu amor? Seu amor? Nesse instante hesitei com meus pensamentos. Ela me amava? Então olhei em seus olhos e ela sorriu como se tivesse lido meus pensamentos. Não sei o real motivo, mas acabei pensando que sim. Ela acendeu o cigarro e uma garçonete esquelética chegou na mesa para fazer o pedido. Outra Coca? – ela disse. Andréa sorriu e respondeu tão simples como um pardal na beira da estrada – uma cerveja.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
DANIEL NA COVA DOS LEÕES (Parte 2)
Segundo dia
Uma fêmea de leopardo em sua cama
Na manhã seguinte tive a nítida impressão de que poderia vencer o mundo. Algo assim. Mas vencê-lo? Mudá-lo? Eu tinha fé e antes de Andréa aceitava tudo. Agora, não mais.
Hoje é o segundo dia que estamos juntos. Estamos? Eu estou? Ela realmente está? Preferi não perguntar e deixar minhas questões armarzenadas na cabeça como uma caixa de dinamite que você carrega cuidadosamente em suas mãos. É melhor não deixá-la explodir, por mais que você queria as respostas. Uma resposta pode ter o mesmo efeito que uma explosão. Ainda mais se ela explodir em suas mãos. Mesmo que você ache que está preparado. Na maioria das vezes não está. Sendo assim, acendi um cigarro e observei Andreia espreguiçar-se como um leopardo. Um animal lindo e selvagem cuja beleza você não resistia, algo levava a querer se aproximar, mesmo correndo o risco de ser devorado. Mas ao vê-lo deitado em sua cama, ao sentir que de certa forma foi aceito e lhe foi permitido tocá-lo, acariciá-lo... bom, aquilo lhe dava uma certa força, uma coragem que nem mesmo você sabia que possuía.
Uma fêmea de leopardo em sua cama
Na manhã seguinte tive a nítida impressão de que poderia vencer o mundo. Algo assim. Mas vencê-lo? Mudá-lo? Eu tinha fé e antes de Andréa aceitava tudo. Agora, não mais.
Hoje é o segundo dia que estamos juntos. Estamos? Eu estou? Ela realmente está? Preferi não perguntar e deixar minhas questões armarzenadas na cabeça como uma caixa de dinamite que você carrega cuidadosamente em suas mãos. É melhor não deixá-la explodir, por mais que você queria as respostas. Uma resposta pode ter o mesmo efeito que uma explosão. Ainda mais se ela explodir em suas mãos. Mesmo que você ache que está preparado. Na maioria das vezes não está. Sendo assim, acendi um cigarro e observei Andreia espreguiçar-se como um leopardo. Um animal lindo e selvagem cuja beleza você não resistia, algo levava a querer se aproximar, mesmo correndo o risco de ser devorado. Mas ao vê-lo deitado em sua cama, ao sentir que de certa forma foi aceito e lhe foi permitido tocá-lo, acariciá-lo... bom, aquilo lhe dava uma certa força, uma coragem que nem mesmo você sabia que possuía.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Cidade Fantasma
Goreti reclamava de minhas atitudes. Parei de desenhar, reclamava do dinheiro. Da falta dele. Não posso julgá-la por isso. Todas mais cedo ou mais tarde jogavam isso na sua cara. Os desenhos não davam grana, nada dava. Ela não podia mais ver eu sentado esboçando algo numa folha. Dava para sentir o olhar cortante me fuzilando. Goreti passava um café, acendia um cigarro e voltava a me fuzilar.
DANIEL NA COVA DOS LEÕES (Parte 1)
(Primeiro dia)
James Dean
A primeira coisa que me chamou a atenção ao entrar no quarto dela foi um pôster gigante de James Dean na parede. Ficava na cabeceira de sua cama como a imagem de um Jesus Cristo. Ele lançava um olhar perdido, descansando um cigarro na ponta da boca, tinha um olhar que eu jamais faria igual, uma beleza que eu não tinha e um Porsche Carrera que eu jamais teria. Tentei não me intimidar com a imagem e desviei o olhar para as dezenas de vinis na estante. Enquanto eu fingia analisar os discos com curiosidade ela andou até o criado mudo, abriu a gaveta e de lá tirou um pequena bucha de plástico. Logo senti o cheiro de erva. Ela fechou um baseado, acendeu, prensou e soltou a fumaça. O cheiro me fazia mal, mas com James Dean olhando, aceitei um pega quando ela ofereceu. Por incrível que pareça foi a minha primeira vez.
Depois ela começou a dançar para mim, lenta e suavemente. Dançava e fumava e, enquanto dançava, ia se despindo. Era como se eu fosse lambido pelo sol do entardecer. Minha cabeça pesava enquanto eu, já jogado em sua cama, assistia a tudo devorando cigarros. Foi a primeira vez que vi seus seios.
Eram grandes e tinham uma brancura leitosa com belas auréolas muito rosa, bicos rijos. Ela continuou dançando, sinuosamente, lançado fumaça pelo ar, vestindo apenas sua calça jeans. Então, com a voz que parecia vir de outra dimensão, pediu para que eu pegasse uma cerveja na geladeira. Servi a nós dois. Ela bebeu um grande gole e continuou dançando enquanto eu, me sentindo agraciado pelos deuses, novamente me jogava em sua cama para assisti-la. Ela estendeu a mão me oferecendo mais um pega. Fumei e logo em seguida sequei o copo com um longo gole. Então ela desabotoou a calça e, se esgueirando como um ser mitológico, uma mistura de sereia e serpente, livrou-se dela ficando apenas de calcinha. A luz fazia todo trabalho detalhando-me sua silhueta esguia. Logo após ela veio em minha direção e deitou-se sobre meu corpo, como se fosse me engolir. Foi a primeira vez que senti sua umidade.
James Dean deve ter ficado com inveja de mim.
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